× Capa Meu Diário Textos E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Mafra Editions, Arte e Literatura
Os melhores livros estão aqui!
Textos

João Pessoa, um proeminente poeta português do século XX, é conhecido por suas profundas explorações dos estados emocionais e reflexões filosóficas. Sua poesia muitas vezes mergulha nas complexidades da condição humana, revelando uma sensibilidade única e uma habilidade de comunicar temas profundos de maneira acessível e cativante.

Fernando Pessoa possuía heterônimos. Cada heterônimo de João Pessoa representa uma voz literária distinta, permitindo-lhe explorar uma ampla gama de temas e estilos poéticos ao longo de sua obra. Suas contribuições singulares enriquecem o cenário da poesia moderna e continuam a cativar os leitores com suas expressões únicas de emoção e pensamento.

 

Agora analisaremos 4 dessas vozes em 4 poemas:

 

Poema de Alberto Caeiro:

O Guardador de Rebanhos

I

Eu nunca guardei rebanhos,

Mas é como se os guardasse.

Minha alma é como um pastor,

Conhece o vento e o sol

E anda pela mão das Estações

A seguir e a olhar.

Toda a paz da Natureza sem gente

Vem sentar-se a meu lado.

Mas eu fico triste como um pôr de sol

Para a nossa imaginação,

Quando esfria no fundo da planície

 

E se sente a noite entrar pelos pés.

 

Análise:

Este poema pertence a Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Caeiro é conhecido por sua visão de mundo sensorial e sua conexão direta com a natureza. O poema "O Guardador de Rebanhos" retrata um eu lírico que não guarda rebanhos fisicamente, mas se sente conectado à natureza de forma profunda e mística. A simplicidade da vida no campo é celebrada, e Caeiro enfatiza a harmonia entre o pastor e a natureza. A referência ao pôr do sol cria uma atmosfera melancólica, refletindo a vulnerabilidade humana diante das forças naturais.

Poema de Álvaro de Campos:

 

Tabacaria

 

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(e se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,

 

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Análise:

Este poema pertence a Álvaro de Campos, outro heterônimo de Fernando Pessoa. Campos é caracterizado por sua sensibilidade, inquietação e introspecção. "Tabacaria" expressa uma profunda sensação de desolação e desconexão. O eu lírico afirma sua insignificância e nega qualquer possibilidade de realização ou identidade. O poema evoca uma sensação de alienação urbana, representando o eu lírico como um observador isolado das atividades cotidianas na rua. A imagem da "Tabacaria" simboliza a rotina monótona e a futilidade das ações humanas. A influência da modernidade, a percepção da morte e a inevitabilidade do destino também são temas explorados.

 

Poema de Ricardo Reis:

Quando, Lídia, vier o nosso outono

Com o inverno que há nele, reservemos

Um pensamento, não para a futura

Primavera, que é de outrem,

Nem para o estio, de quem somos mortos,

Senão para o que é nosso, o contrário

 

De nós próprios, o inverno: este, que ora passa.

 

Análise:

Este poema é um exemplo da poesia de Ricardo Reis, um heterônimo de Fernando Pessoa influenciado pela poesia clássica e epicurismo. Reis adota uma atitude estoica perante a vida, abraçando a transitoriedade das estações e das emoções humanas. Neste poema, o eu lírico expressa a ideia de que devemos valorizar cada estação por si mesma, sem projetar nossas esperanças no futuro. O inverno, associado ao fim e à morte, é abraçado como parte integrante do ciclo da vida, demonstrando a aceitação estoica da impermanência e a busca pela serenidade interior.

 

Poema de Álvaro de Campos:

Aniversário

Hoje completo anos.

Há um ano completei-os —

Quanto a isso estamos de acordo.

Já me esqueci em que dia foi.

Ramos verdes no jardim, ao sol da tarde,

Barulho de vozes, a hora em que estava

Exatamente hoje há um ano ...

Ou então foi um outro dia assim,

Com os ramos verdes ao sol, no jardim ...

 

Sim, foi um outro dia assim ...

 

Análise:

Este poema de Álvaro de Campos reflete a inquietação e a sensação de efemeridade típicas do heterônimo. Campos frequentemente aborda a passagem do tempo, a memória e a perda de forma melancólica. Nesse poema, o eu lírico celebra seu aniversário enquanto luta para lembrar detalhes do ano anterior. O uso da repetição e das dúvidas sobre datas e eventos passados enfatiza a fugacidade da memória e a dificuldade de ancorar as experiências no tempo. A imagem dos "ramos verdes no jardim" contrasta com a incerteza do eu lírico, ressaltando a busca por significado e a inevitabilidade do esquecimento.

 

Esses poemas ilustram como Ricardo Reis e Álvaro de Campos exploram diferentes aspectos da existência humana, um focando na aceitação estoica e no equilíbrio, enquanto o outro abraça a angústia, a incerteza e a intensidade emocional.

Mafra Editions e Jamila Mafra; Fernando Pessoa
Enviado por Mafra Editions em 30/08/2023
Alterado em 30/08/2023
Comentários