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Artemis era uma jovem introvertida que, a partir de dado momento,começa a se interessar pela astronomia. Aliada à essa paixão, estava a vontade incessante de mudar de vida, de ir para um lugar extremamente distante, e por que não até mesmo a outro planeta?

Quando ela começa a levar essa possibilidade a sério, é taxada de louca pela família e pelos colegas. No entanto, o que ela mais deseja acaba se tornado realidade: de fato, algum tempo depois, a jovem é convidada a habitar em outro planeta, Guinah.

Vivendo em Guinah, um planeta extremamente desenvolvido e sustentável, Artemis nem pensa em voltar à Terra. Entretanto, ela descobre que seu planeta de origem, onde ainda se encontra sua família, está sob um perigo iminente, e isso pode fazer a jovem viajante intergaláctica mudar seus planos.

 

Galáxia NGC 4319

Já fui muito infeliz, mas agora a minha felicidade é com¬pleta, porque hoje vivo em Guinah, um planeta situado na galáxia NGC 4319, localizada a oitenta milhões de anos-luz de distância na direção da constelação do Dragão. Aqui, longe da guerra e da doença, a vida é quase eterna!

Tudo começou quando eu tinha 15 anos de idade. Lembro-me muito bem de como tudo aconteceu. Lá estava eu no segundo ano do colegial, totalmente de mal com a vida, decepcionada com a vida amarga dos meus pais e cansada de ser tão pobre. Eu sonhava em ir embora, ainda que fosse para outro planeta.

Naquele dia estávamos na aula de física, quando o professor começou a falar sobre vida extraterrestre e a possível comunicação entre os seres humanos e os alienígenas. No começo, essa conversa me deixou enfadada, mas depois, pensando melhor, isso me fascinou muito.

Essas foram suas palavras:

— Classe, saibam que a comunicação com seres extrater¬restres pode ser possível e já foi testada. Em 1973 foi enviada uma mensagem para o espaço a bordo da sonda espacial Pioneer 10, gravada em uma placa de ouro, semelhante a um disco. Nesta mensagem foram usados desenhos codificados por Drake e por seu colega, o grande astrofísico Carl Sagan. Foi colocada na nave essa placa de ouro anodizado, mostrando as figuras de um homem e de uma mulher, o homem com a mão levantada em sinal de paz e boas-vindas; as figuras destacam-se contra a silhueta da nave espacial, para dar uma noção de escala.

“A placa continha ainda o diagrama do hidrogênio atômico e um plano do sistema solar. Ao lado deste esquema surge a posição do Sol em relação a 14 pulsares conhecidos, cada um destes acompanhados do símbolo indicativo do período de pulsação.

“E não é só isso: quatro anos depois eles enviaram, em outra sonda, a Voyager, mais uma mensagem gravada em videodisco com imagens e sons do planeta Terra. Outro tipo de transmissão utilizado por eles é o método do código binário, o mesmo usado nos computadores e outros equipamentos” — explicou o professor.

— Professor, o senhor acredita que algum alienígena tenha recebido essas mensagens? — eu perguntei, curiosa pela primeira vez.

— Veja bem, Artemis, essa é uma questão um pouco mais complicada. Mesmo sendo possível recebermos e enviarmos mensagens para os extraterrestres, elas demorariam muito para chegar até nós. Por exemplo, se houvesse vida nos planetas que giram em torno da estrela Barnard, as nossas mensagens chegariam lá depois de seis anos, isso na velocidade da luz. No entanto, é ilógico esperar que haja vida inteligente a essa distância. Mas, em se tratando de haver uma civilização a 100 anos luz daqui, as mensagens demorariam sete gerações para chegar lá ou aqui — me explicou o professor Roberto.

Lucas, outro aluno, se manifestou naquele momento dizendo:

— Professor, ouvi dizer que os radioastrônomos, quando descobriram sinais de rádio vindos do espaço, imedia¬tamente pensaram se tratar de mensagens codificadas envia¬das por uma civilização alienígena!

— Sim, Lucas. Esse tipo de coisa acontece às vezes. É preciso muito cuidado e um avançado aparato tecnológico para interpretar os sinais vindos do espaço — o professor explicou.

Fui para casa naquele dia pensando nisso. Aos poucos eu me convencia de que ir embora para outro planeta até que não era má ideia. Na Terra eu só tinha decepções, meus pais sempre desempregados e brigando muito. Era claro que entre eles não havia amor, e eu me sentia massacrada pela pobreza e problemas de saúde.

 

Estrelas no Céu 

Em uma certa noite, eu olhei para o céu estrelado e pensei comigo: “Realmente deve haver, em algum lugar no universo, uma civilização mais evoluída do que essa, mais pacífica, mais humana, menos maldosa”. Isso dominou meus pensamentos e, quanto mais eu me de¬cepcionava com a Terra, mais eu sentia vontade de ir embora. Comecei a comentar com os meus amigos a minha vontade de ir embora para outro planeta e todos riam da minha cara, dizendo que eu estava louca. Um deles era meu amigo Lucas. Em uma conversa, ele zombou de mim.

— Lucas, você acredita no que o professor falou outro dia na aula de física, sobre os extraterrestres? — perguntei.

— Artemis, tudo é possível nesse universo! O que eu não acho possível agora é a loucura que você anda espalhando aos quatro ventos — ele me respondeu.

— E o que eu estou espalhando aos quatro ventos? — questionei, já nervosa.

— Ora, essa história de você ficar dizendo que quer ir em¬bora para outro planeta a qualquer custo! O homem mal chegou em Marte. E, mesmo que as viagens para Marte já estivessem sendo realizadas, custariam milhões de dólares. Artemis, você é pobre, nós somos pobres, você nunca teria dinheiro para fazer uma viagem dessas. Você não pode ficar presa a essas ideias como se isso fosse possível. Pare de falar essas coisas, se não todos pensarão que você está louca! — Lucas alertou-me.

— Lucas, eu acho que você não me entendeu. Eu não quero ir para Marte, eu quero ir para outro planeta em uma ga¬láxia muito longe daqui, quero ir para um planeta onde exista uma civilização mais evoluída do que essa, e não voltar nunca mais para cá. Eu quero distância da raça humana. E a NASA não me interessa nem um pouco! — respondi enfaticamente.

Sei que, a partir daquele dia, meu amigo Lucas e todos os outros pensaram que eu estivesse enlouquecendo. E talvez eu estivesse mesmo enlouquecendo de tanta angústia.

Passei a comprar todo material que falava sobre UFOS, planetas e galáxias afins. Meus pais não gostaram muito des¬se meu novo comportamento, até porque eles mal tiveram estudo e eram quase que completamente ignorantes em assuntos de astronomia e ufologia. Aliás, eles faziam parte do grupo que achava que eu estava enlouquecendo. Todos ao meu redor mal sabiam o que era um avião, tampouco uma viagem intergaláctica. Mas eu nem me importava com os outros, simplesmente estava concentrada no meu objetivo principal: ir embora da Terra. 

 

Espaço Sideral

Encontrei por acaso um livro que falava sobre telepatia, comunicação através do pensamento. Então acreditei que, se eu estudasse e meditasse aquilo que eu queria, tudo poderia acontecer. É claro que no começo não foi fácil, tinha que escolher entre comprar o últi¬mo lançamento da revista científica ou a roupinha ou o lanche que eu queria. Mas, no fim das contas, eu escolhia a revista e tantos outros materiais que precisava para minha pesquisa particular.

Com a intenção de ser abduzida, comecei a treinar meu poder de telepatia. Talvez os alienígenas tivessem algum tipo de tecnologia capaz de captar e interpretar meus pensamentos. Arru¬mei um emprego de balconista em uma loja e consegui com¬prar um telescópio simples, mas que me ajudou muito.

Passei a observar as estrelas todas as noites. Minhas três irmãs, com quem eu dividia um quarto apertado, também achavam que eu estava louca. Eu não queria saber de mais nada. Minhas melhores amigas eram as estrelas. Observá-las era a melhor coisa que eu fazia na inútil vida que eu levava, que só não era mais inútil porque, na Terra, ao menos existia a astronomia.

Meus amigos se afastaram de mim. Nesse mundo perturbado, eles preferiram o vício à minha amizade. Eu até os convidei para estudar as estrelas comigo, entretanto a men¬te deles estava totalmente presa e escravizada pelas coisas banais e finitas do planeta Terra. No começo eu chorei amargamente por saber que, enfim, eu estava sozinha. Não sobrou um mísero terráqueo para me fazer companhia. Mas que isso importava? Eu tinha as estrelas, toda noite eu conversava com o planeta Marte e também com a Lua, às vezes com Mercúrio. E querem saber? Eu me sentia muito bem. Os astros são os melhores amigos que alguém pode ter. Por dois anos fiz tudo isso insistentemente.

Terminei meus estudos no colégio com fama de doida e excluída, mas enfim cumpri meu papel. Não entrei na faculdade, eu não tinha dinheiro para isso, porém continuei em meu emprego de balconista e também com minhas pesquisas de astrônoma amadora. Comprei até um telescópio melhor. Eu estava cada vez mais convicta de que algum dia eu iria embora para outro planeta. Nessa época, o planeta Terra estava no ano 2000 d.C. 

 

Jamila Mafra 

 

Mafra Editions e Jamila Mafra
Enviado por Mafra Editions em 18/09/2023
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