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Textos

"A Professora de Plaszow" é uma história que mergulha nos momentos sombrios da Segunda Guerra Mundial e na complexidade das relações humanas em tempos de adversidade. A trama acompanha a vida de Sara Kowalska, uma professora polonesa que, durante a ocupação nazista, é forçada a trabalhar como tradutora no infame campo de concentração de Plaszow.
Enquanto a crueldade do regime nazista se desenrola ao seu redor, Sara encontra uma maneira de proporcionar pequenos momentos de alívio para suas companheiras prisioneiras. Com a permissão do oficial Arnold, ela compartilha histórias e ensina literatura aos soldados nazistas e às prisioneiras, buscando aliviar a tensão e manter uma faísca de humanidade viva.
A trama se aprofunda quando Sara desenvolve uma conexão surpreendente com Johann, um soldado encarregado da vigilância dos blocos. Entre a brutalidade do campo e a busca por um vislumbre de humanidade, os dois personagens enfrentam dilemas éticos e desafios emocionais.
Explorando temas como resistência, esperança e amor em meio à adversidade a obra é uma narrativa que destaca a força do espírito humano diante das atrocidades da guerra, esta obra oferece uma visão cativante e comovente sobre a capacidade de encontrar luz mesmo nos momentos mais obscuros.
“A Professora de Plaszow” é uma história de coragem, compaixão que mostra a força da mente humana quando confrontada com a crueldade e a dor. Uma jornada que ilumina a escuridão do passado e celebra a resiliência diante das adversidades mais dolorosas. É uma homenagem às pessoas reais que, contra todas as probabilidades, encontraram maneiras de manter a luz acesa, mesmo nos momentos mais difíceis da história.

 

1933: A GRANDE QUEIMA DE LIVROS

Em um dia que ficaria marcado em minha memória, aos meus dezesseis anos de idade, eu Johann Schmidt, participei de um evento histórico que representava a essência da ideologia nazista: a grande queima de livros. A grande queima de livros na Alemanha nazista ocorreu em 10 de maio de 1933, durante os primeiros meses do regime de Adolf Hitler.

Como membro ativo da Juventude Hitlerista, fui convocado para participar da ação organizada pela Liga dos Estudantes Alemães, que eram apoiadores fervorosos do regime nazista. O fervor ideológico que permeava o ambiente era palpável, e eu, impregnado por essa convicção, estava pronto para demonstrar meu comprometimento com os princípios do regime.

 A queima de livros foi uma manifestação pública de repúdio a ideias consideradas "não-alemãs" e contrárias aos princípios nazistas. Durante o evento, obras de diversos autores foram queimadas em praças públicas de várias cidades alemãs. Livros de autores judeus, comunistas, socialistas e de pensadores considerados "não-arianos" pelos nazistas foram alvos específicos. Entre os livros queimados estavam obras de escritores renomados como Heinrich Mann, Erich Maria Remarque, Karl Marx, Sigmund Freud, entre outros.

A queima de livros simbolizou a censura imposta pelo regime nazista, que buscava controlar a informação e eliminar perspectivas consideradas prejudiciais à ideologia nazista. Essa ação marcou um dos primeiros eventos significativos na campanha de supressão cultural levada a cabo pelos nazistas de que posso lembrar.

O momento era de exaltação nacionalista e rejeição a qualquer pensamento considerado contrário aos ideais arianos. A praça pública fervilhava com a presença de membros da juventude e simpatizantes do regime. Em meio à atmosfera de fanatismo, pilhas de livros foram acesas, e as chamas consumiam obras que eram rotuladas como "não-alemãs".

A queima de livros não era apenas um ato de censura; era uma declaração pública de intolerância ideológica. Como jovem participante, eu absorvia a narrativa de que essa ação era necessária para purificar a cultura alemã. Contudo, à medida que o tempo passou, e eu testemunhei as consequências nefastas do fanatismo ideológico, questionamentos começaram a surgir em minha mente, abalando as fundações da doutrinação que recebi na juventude nazista.

Ainda lembro-me do reflexo das chamas em nossos olhos de jovens da juventude nazista participantes do evento naquela noite. O nome de Bertolt Brecht, com sua poesia crítica e visão política, foi pronunciado por mim antes que seus escritos desaparecessem no fogo crepitante.

A voz única de Heinrich Heine, um poeta judeu, também foi silenciada naquela praça pública, enquanto suas palavras eram consumidas pelo calor intenso. Obras de Thomas Mann, um crítico aberto do regime nazista, foram igualmente condenadas ao fogo por mim e meus companheiros.

Enquanto os livros ardiam no fogo, os nomes desses autores se dissipavam pelo ar, um símbolo do que o regime considerava inaceitável e perigoso. Naquela juventude manipulada pela ideologia, eu não questionava as motivações por trás da queima; no entanto, à medida que os anos passaram, esses nomes voltaram em minha mente de uma maneira diferente, provocando reflexões sobre a diversidade de pensamento e a perigosa intolerância da qual participei que presenciei naquele dia.

 

 

OLIMPÍADAS DE BERLIM

As ruas ferviam com uma atmosfera única durante as Olimpíadas de Berlim em 1936. A cidade, envolta em uma mistura de entusiasmo e propaganda, exibia uma fachada de ordem e grandiosidade. Os cartazes e bandeiras nazistas ostentavam a visão do regime, retratando uma Alemanha unida e triunfante.

As pessoas, embora envolvidas na euforia dos Jogos Olímpicos, também estavam imbuídas da ideologia do nacional-socialismo. As ruas eram palco de desfiles, celebrações e discursos, nos quais a retórica de superioridade racial era retumbante. A presença das forças paramilitares e da juventude nazista criava um ambiente de conformidade, onde a ideia de uma Alemanha purificada racialmente era proclamada com orgulho.

No entanto, sob a superfície dessa aparente unidade, a presença de estrangeiros e atletas de diversas origens introduzia nuances e contradições. Enquanto os nazistas tentavam projetar uma imagem de superioridade. Era um momento de tensão, onde a ideologia confrontava a realidade multirracial das competições.

Naquela época, eu Johann, era um jovem de 19 anos, fervoroso membro e líder ativo da juventude nazista. As Olimpíadas de Berlim em 1936 foram um momento significativo, e eu estava repleto de entusiasmo ao participar do evento. O discurso de Hitler ressoava nos estádios, envolvendo-nos em um mundo carregado de nacionalismo e propaganda.

Enquanto testemunhava as competições, era difícil ignorar a grandiosidade dos jogos. A imagem que permanece gravada em minha memória é a ascensão de Jesse, o atleta afro-americano, que desafiou as noções da supremacia racial ariana. Isso gerou um conflito interno em mim, pois, por um lado, eu era influenciado pela retórica nazista, mas, por outro, testemunhar a grandeza esportiva de Jesse contradizia as ideias que nos eram incutidas.

A dualidade de sentimentos me atormentava, pois as façanhas atléticas desafiavam a narrativa racial do regime. Essa experiência nas Olimpíadas se tornou um momento de reflexão em minha vida, questionando as contradições entre a propaganda nazista e a realidade que via diante dos meus olhos.

Naquele dia enquanto eu testemunhava o atleta afro-americano brilhando nas Olimpíadas uma onda de sentimentos contraditórios me envolveu subitamente. O estádio estava repleto de aclamações, mas a contradição se perpetrava em meu interior. A supremacia ariana, que eu era ensinado a glorificar, parecia desmoronar diante da excepcionalidade atlética de Jesse. Uma mistura de orgulho nacional e desconforto pessoal me inundou, forçando-me a reconsiderar as narrativas que haviam sido incutidas em minha mente.

Ao observar Jesse trilhar sua jornada até a chegada, um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. Ele, um homem negro, desafiava as narrativas de superioridade racial que o regime nazista tanto promovia. Seus passos rápidos e determinados eram mais do que uma vitória esportiva; representavam uma resistência silenciosa contra a ideologia que eu, como jovem membro da juventude nazista, estava sendo doutrinado a seguir.

Enquanto ele cruzava a linha de chegada, rompendo barreiras raciais e conquistando o primeiro lugar, a multidão no estádio retumbava em aplausos. A vitória de Jesse não era apenas atlética; era uma afirmação da igualdade humana que o regime que eu representava negava. Enquanto as bandeiras nazistas ondulavam, eu me via diante de uma contradição que começava a minar as certezas que sustentavam meu mundo. O triunfo de dele seria um dos muitos acontecimentos que, com o tempo, contribuiriam para minha crescente desilusão com as ideologias do nacional-socialismo.

 

Mafra Editions e Jamila Mafra
Enviado por Mafra Editions em 04/02/2024
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